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O Natal antigo

 

Não trago aqui o Acontecimento de há 2012 anos, mas as comemorações a que vem dando lugar e que todos os povos civilizados celebram anualmente.

É o Nascimento do Menino Jesus num estábulo da cidade de Belém num dia que se convencionou ser o 25 de Dezembro.  E hoje como ontem, a celebração do Natal dá-se, principalmente, entre todos os povos que se dizem cristãos.

Mas o Natal hoje é diferente. Diferente na maneira materialista como é celebrado.

Até à primeira metade do século passado (XX) o Natal tinha um acentuado cunho de espiritualidade que foi desaparecendo com as mudanças que se operam no estilo de vida, melhor dito  na materialização que se há instalada na vida das pessoas.

O Natal é diferente, dizia. Antes, todo o povo cristão vivia-o com simplicidade e um são espírito de religiosidade cativante e enternecedor. E não somente nos chamados actos religiosos que também se vão simplificando para não “maçarem” os cristãos que a eles assistem. Mas deixemos esse aspecto para só lembrar o que era o Natal nas famílias e na própria sociedade.

Não se conheciam nem árvores nem bolos de Natal. Não havia lojas de brinquedos. Não se faziam refeições pantagruélicas. Era tudo simples e passado numa vivência familiar e social enternecedora e fraterna. Apesar disso, a época do Natal era aguardada com  expectativa e entusiasmo, principalmente pelas crianças e jovens. Aliás, isso hoje também acontece, embora diferentemente.

Em chegando as novenas celebradas ao amanhecer, porque a Missa era liturgicamente “privilegiada”, todos tinham gosto de a ela assistir.  Assim, os trabalhadores do campo, mesmo  trajando as roupas de trabalho e trazendo as ferramentas respectivas, dirigiam-se com as famílias à paroquial e assistiam à novena cantada e, depois, à Missa – hoje mais propriamente dito, Eucaristia. A igreja era iluminada com candeeiros de petróleo, e mais tarde com candeeiros a gás, pois a electricidade ainda não tinha cá chegado. Porque era o tempo litúrgico do Advento, os altares não tinham flores. Terminadas as cerimónias religiosas, todos seguiam para os seus trabalhos, se o tempo permitia. De contrário, voltavam a casa para as lides domésticas.

Na noite que antecedia a do Natal, - ou noite da” Calhandra”... – reuniam-se os amigos para a ceia, geralmente um cordeiro que havia, talvez,  “desaparecido” das terras de algum deles...

Entretanto, as donas de casa preparavam a caçoilha para o dia de Festa. Era a época da grande matança de gado bovino. Alguns chefes de família associavam-se e adquiriam uma vaca ou um boi que dividiam entre si. Era a chamada “gueixa dos sócios”.  Para acompanhar o prato de carne de caçoilha, cozia-se o pão de trigo, que havia sido moído no moinho de vento da freguesia. (Hoje os moinhos estão praticamente parados ou inactivos e são apenas uma raridade turística.) E era só...

Durante a semana os amigos haviam-se presenteado com algum produto da terra. Apreciados eram os queijos de fabrico caseiro, oferecidos pelos lavradores aos amigos. Uma delícia de paladar inigualável.

Para as crianças e também para os adultos, tinham-se preparado, no fim do verão, figos passados das figueiras da porta, pois geralmente todos possuíam ao menos uma figueira no quintal.

A Noite de Natal era aguardada com certo frenesi, principalmente pelas crianças. Todos queriam assistir ao Nascimento do Menino Jesus, na Missa do Galo.

O Presépio, na paroquial, naquele estilo que S. Francisco de Assis criou, era armado num dos altares da igreja mas ficava resguardado com cortinados até que o celebrante cantasse o Glória in excelsis Deo. Nessa altura os cortinados caíam, as velas do Presépio eram acendidas e até uma pequena luz surgia no alto a imitar a estrela que havia conduzido os pastores até ao Presépio de Belém. E a celebração prosseguia, o órgão dava os primeiros acordes e  a “Capela” entoava uma partitura já bastante antiga.

No final da Missa distribuíam-se pelos músicos e serventuários figos passados e licores caseiros. (O vinho do Porto era um luxo).

Quando as famílias chegavam a casa. Depois da “Missa do Galo”, geralmente, não havia prendas. Para os filhos miúdos guardavam-se figos passados que, enquanto eles dormiam, eram colocados debaixo do travesseiro e que eles só descobriam quando acordavam de manhã. Depois e antes do almoço, apareciam algumas prendas para os membros da família: geralmente, peças de vestuário.

Por volta das dez horas, era servido o almoço: carne de caçoilha, pão de trigo e café de cevada ou fava. Não havia vinho.

A tarde do dia de Natal era destinada às visitas de família ou de algum conhecido que estivesse doente. Não se esquecendo os mais idosos. Ao serão da noite, recebiam alguns familiares e amigos junto do Presépio armado na sala principal: um altarzinho formado por pequenas caixas a imitar um trono no qual era colocada a antiga imagem do Menino Jesus, rodeado de vasos com flores, pratinhos de trigo e algumas laranjas americanas trazidas na véspera, da quinta da família. Nessa ocasião alguns serviam figos passados e licores caseiros.   

E era assim, com simplicidade e alegria, o Natal de outros tempos. Bons tempos.

E, Boas Festas do Natal !

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